Teatro de rua |
O teatro de rua, uma das manifestações mais antigas de cultura popular, traz na bagagem séculos de histórias e influências que vão dos folguedos do Nordeste às máscaras dos espetáculos medievais |
Teatro de rua
O teatro de rua, uma das manifestações mais antigas de cultura popular, traz na bagagem séculos de histórias e influências que vão dos folguedos do Nordeste às máscaras dos espetáculos medievais
É permitido comer e beber durante o espetáculo, dá para sair no meio e até para contracenar com os atores. Só não vale achar que teatro de rua é menos teatro só porque à primeira vista pode parecer pouco planejado. Pelo contrário. São séculos e séculos de tradição nessa que é uma das mais antigas manifestações populares. O próprio teatro originou-se na rua, ou quase isso. “O surgimento do teatro se dá no espaço público”, explica o professor do Departamento de Artes Cênicas da Universidade de Campinas (Unicamp), Rubens José Souza Brito, participante do Três Vezes Rua, evento que reuniu debates, aulas-espetáculo e oficinas como parte do projeto Reflexos de Cenas, do Sesc Consolação (veja boxe Nas ruas da cidade). “Não podemos falar exatamente em rua, que ainda não existia; sem dúvida, ele nasceu no seio da comunidade, antes mesmo do estabelecimento do teatro grego. Mas é como a história do leite: a criança que nasce e cresce na capital acha que ele vem da caixinha.”
Celeiro nordestino
Todas as linguagens
Entre as influências na estética do teatro de rua, além da já citada commedia dell’arte, é forte a presença da exuberância visual do circo tradicional e a incomparável habilidade de comunicação de manifestações populares como o maracatu – folguedo nordestino, sobretudo da região de Pernambuco. “É possível usar várias formas de linguagem no teatro de rua”, explica o ator e diretor João Carlos Andreazza. “A da commedia dell’arte, por exemplo, é interessante porque o figurino e as máscaras identificam rapidamente para o público passante o tipo de personagem que está sendo desenvolvido durante a encenação. O que é muito importante, uma vez que no teatro de rua o público não necessariamente acompanha a peça toda.” Andreazza explica ainda que outra particularidade do gênero é o uso de códigos não verbais. Por exemplo: gestos da mímica no lugar de palavras e até as circenses pernas-de-pau, que servem para fazer a personagem crescer em cena, literalmente. “Essas linguagens são muito atrativas para o público e importantes para o ator de rua”, afirma.
O professor Rubens José Souza Brito acrescenta que o figurino também merece atenção especial. “As cores, o tecido, tudo é importante”, explica. “E isso é bebido também nas fontes de vários eventos da cultura popular. Por exemplo, o vilão entra de preto, a mocinha de cor-de-rosa, a ‘mãezona’ popular entra com vestido de chita todo colorido.”
Proximidades
Os papéis de público e atores também sofrem interessantes mudanças no teatro de rua em relação ao encenado no edifício teatral. A ausência do palco aproxima os lados, enquanto o tom de constante intervenção permeia as apresentações. Afinal, se por um lado um espetáculo pode mexer com o cotidiano da cidade e seus transeuntes, por outro esses mesmos passantes podem – e vão – intervir nas cenas. “Não raro alguém ‘invade’ a história e começa a participar dela”, conta Marcos Pavanelli, do Núcleo Pavanelli de teatro de rua. “Alguns querem mesmo participar da cena, e a gente deixa, claro que tentando conduzi-lo até um determinado limite para não atrapalhar a apresentação. O que ocorre muitas vezes é que a pessoa quer chamar a atenção também, então é só você dar a ela a oportunidade, que depois ela se sente satisfeita e até nos ajuda a controlar os mais empolgados, tomando conta da roda.”
Esse movimento, por sua vez, contribui para a relação do cidadão com a cidade, uma vez que, quando um indivíduo assiste a um espetáculo na praça, ele está também usufruindo um espaço público de convívio urbano. “Partindo de uma reflexão de Hannah Arendt [teórica política alemã que viveu de 1906 a 1975], o espaço público é constituído pelo discurso e pela ação”, afirma o diretor Dorberto Carvalho, também presente no evento do Sesc. “Ou seja, é a convivência de todos numa praça ou mesmo nas ruas que faz com que elas sejam efetivamente de todos. E o teatro de rua é um dos instrumentos para isso.”
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